Nos tempos atuais, temos observado forte crescimento na busca por alimentos mais naturais para cães e gatos, por exemplo, que sejam livres de corantes artificiais. É uma tendência de mercado de um nicho específico de indivíduos que não aceitam que os produtos tenham corante. Esse movimento, na verdade, cria força em consonância com a demanda por produtos menos industrializados e socialmente mais sustentáveis.

Enquanto os tutores colocam suas concepções e filosofia de vida para os animais de companhia (humanização), o meio científico tem buscado constantemente estudar as diferenças de um organismo para o outro em determinada fase de vida ou estado de doença, para conseguir fazer as recomendações nutricionais mais corretas e específicas.

Afinal, corante artificial: é bom ou não para seu pet?

A verdade é que não temos evidência científica consolidada que comprove o que realmente é melhor. Não temos estudos demonstrando que nas doses recomendadas, os corantes sejam prejudiciais à saúde dos cães e gatos.  Não podemos afirmar que fazem mal.  A literatura está mais avançada para estudos com humanos e apesar de alguns serem inconclusivos, outros demonstram que alta ingestão diária para as crianças em fase de desenvolvimento é prejudicial.

E por que então indústria de petfood utiliza corantes?

Na verdade, isso se deve à variação na coloração das matérias primas (grãos e demais), que tem como consequência variações na cor dos lotes. Isso pode ser interpretado de modo negativo pelo consumidor, quanto a qualidade do produto. Levando em conta que o aspecto visual é fundamental para a seleção e escolha de um produto, ainda são muitos os proprietários que têm suas decisões influenciadas pela cor. Por isso, tantas indústrias ainda fazem o uso do corante, melhorando a aparência e aceitabilidade do produto pelo proprietário. 

As cores têm um valor diferenciado para os tutores? E para os animais?

Para muitos tutores, quando abrem uma embalagem, é interessante ver o “verde” que representa os legumes, o “vermelho” da carne ou o “amarelo” que seria o frango. Mas os cães não conseguem visualizar o mesmo espectro de cores que nós. Em termos comparativos, nossos receptores podem identificar todos esses tons, enquanto os cães só reconhecem as cores azul e vermelho, não identificando a cor verde. Dessa forma, as cores ficam mais apagadas, porque para suprir a ausência do verde, o cérebro do cão completa a imagem com cinza. Então, os corantes só são adicionados para atrair os proprietários dos pets.

Mas se eles não agregam nenhum valor nutricional, e talvez possam fazer mais mal do que bem (não temos estudos em pet), o quanto vale a pena arriscar? Quanto realmente esse tipo de demanda dos clientes são benéficas para cães e gatos?

A indústria, no geral, prefere o uso dos corantes artificiais por serem mais resistentes aos efeitos do processamento (mais estáveis) e por possuírem maior poder colorífico: enquanto a dose a ser utilizada é de 2 a 4 kg de corante natural por tonelada de produto acabado, a dosagem de um corante artificial é de 5 à 15 vezes menor (150 a 800g por tonelada). Por um lado, a utilização de corantes artificiais é mais barata, sobrando custos na formulação para adição de outros ingredientes funcionais. Por outro, o padrão da alimentação dos humanos é bem diferente da alimentação dos cães e gatos, pois enquanto os humanos possuem diversidade no cardápio, que inclui ampla gama de ingredientes que podem minimizar suposto malefício do corante, os cães não possuem tamanha variedade. Logo, se temos a oportunidade tecnicamente de poder buscar ingredientes mais naturais, sustentáveis e saudáveis, por que não o fazer?

Um ponto a ser discutido é o modo com que a indústria comunicaria isso ao proprietário. Com certeza o caminho correto seria não reforçar aos clientes conceitos errôneos, por exemplo, o de que corantes fazem mal ou de que o “sódio” faz mal aos cães e gatos saudáveis, sendo que têm alta tolerância ao mineral. Muitas indústrias passam por cima do que é tecnicamente correto para “vender mais a qualquer custo”, fabricando argumentos inadequados e criando demandas para esses nichos.

Como é feita a regulamentação do uso de corantes artificiais?

A Food and Drug Administration (FDA) regula todos os aditivos de cores usados ​​em alimentos para humanos e animais nos Estados Unidos. No Brasil, a regulamentação do uso de aditivos sensoriais como os corantes para alimentos humanos é de competência da ANVISA. O MAPA é o órgão que fiscaliza as indústrias pet, e possui uma lista dos aditivos permitidos na Instrução Normativa nᵒ37, de 27 de outubro de 2015. Os corantes artificiais permitidos são:

Amarelo crepúsculo, amarelo tartrazina, azul brilhante, azul indigotina, azul patente V,  dióxido de titânio, vermelho allura AC, vermelho amaranto, vermelho carmosina, vermelho eritrosina, vermelho ponceau 4R, óxido de ferro amarelo, óxido de ferro preto, óxido de ferro vermelho, ester etílico do ácido Beta-Apo8 carotenóico, licopeno sintético.

Cada corante é classificado de acordo com o seu INS (Sistema Internacional de Numeração). Vale destacar que nessa normativa não há restrição ou limites de uso (doses máximas recomendas) para os corantes artificiais, ficando então a critério do responsável técnico da planta (formulador) fazer a correta utilização. Por isso a importância de ter uma equipe de veterinários e zootecnistas pós-graduados em nutrição pet dentro da indústria, para cuidar da longevidade dos peludos.

Existe demanda para alimentos sem corantes artificiais?

De acordo com pesquisa realizada pela Euromonitor, em 2018, sobre Pet Care no Brasil, os consumidores brasileiros estão analisando com mais cuidado os ingredientes e as origens dos produtos que compram, principalmente em relação aos alimentos. Isso inclui a alimentação dos pets. Quanto mais se assemelharem a alimentos humanos ou contiverem ingredientes familiares, maior será a chance de serem preferidos.

Nos últimos anos, houve um aumento da segmentação em alimentos para animais de estimação, com benefícios funcionais adaptados para determinadas características particulares. Observamos que a tendência é que as pessoas se tornem cada vez mais conscientes das necessidades dos pets, estejam dispostas a gastar mais dinheiro com eles e principalmente, apostem em produtos mais naturais, acreditando que isso fará com que vivam mais.