Assim como em humanos, as doenças cardíacas são comuns em cães e gatos, especialmente em animais idosos ou de raças predispostas. Nesses casos, a alimentação desempenha um papel fundamental na qualidade de vida e no manejo clínico dos pacientes. Entender quais nutrientes e ingredientes são benéficos, ou quais devem ser controlados, é essencial para quem convive com um pet cardiopata.

O que é um pet cardiopata?

Cães e gatos cardiopatas são aqueles que apresentam alguma enfermidade no coração. Nos cães, a doença mais frequente é a degeneração mixomatosa valvar (DMV), especialmente em raças pequenas e idosas. Já nos gatos, destaca-se a cardiomiopatia hipertrófica (HCM), que também pode acometer animais aparentemente saudáveis.

Embora os sinais clínicos variem, é comum observar cansaço fácil, tosse, dificuldade respiratória e acúmulo de líquidos no abdômen ou pulmões. O tratamento inclui medicações específicas e, frequentemente, ajustes na dieta.

A importância da dieta no manejo das doenças cardíacas

A nutrição adequada contribui para:

  • Reduzir a carga de trabalho do coração;
  • Controlar a retenção de líquidos;
  • Preservar a massa muscular;
  • Prevenir deficiências nutricionais secundárias ao uso de medicamentos diuréticos;
  • Melhorar o bem-estar e prolongar a sobrevida do animal.

Nutrientes essenciais para pets com doença cardíaca

O manejo nutricional de animais cardiopatas vai além da simples escolha dos ingredientes: envolve o equilíbrio cuidadoso de nutrientes que atuam diretamente na função cardíaca, no controle de sintomas e na qualidade de vida. A seguir, listamos os principais nutrientes que merecem atenção especial na alimentação desses pets:

1. Sódio (Na)

O sódio está diretamente ligado ao controle da pressão arterial e da retenção de líquidos. Em animais cardiopatas, o excesso de sódio pode agravar o quadro de congestão (como edema pulmonar ou ascite), por favorecer a retenção hídrica. Por isso, dietas para esses pacientes costumam apresentar níveis reduzidos de sódio.

Cuidado: a dieta para cães e gatos cardiopatas não deve ser restrita desse mineral, pois o sódio é um mineral essencial para essas espécies, participando de diversas funções fisiológicas. A redução deve ser realizada com cautela, especialmente nas fases iniciais da doença, pois níveis muito baixos de sódio podem reduzir a palatabilidade da dieta, causar desnutrição ou ativar mecanismos compensatórios prejudiciais, como a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS), que pode piorar a sobrecarga cardíaca.

2. Potássio (K) e Magnésio (Mg)

Ambos os minerais são cruciais para a função elétrica do coração, ajudando na condução do impulso cardíaco e na contração muscular.

  • Potássio: a hipocalemia (nível baixo de potássio) é comum em animais que fazem uso de diuréticos, como a furosemida. Essa condição pode levar a fraqueza, arritmias e intolerância ao exercício.
  • Magnésio: atua como cofator em várias reações enzimáticas e participa do controle do ritmo cardíaco. Sua deficiência também está associada a arritmias ventriculares.

Recomenda-se que a dieta contenha níveis adequados desses minerais e que eles sejam monitorados periodicamente para suplementação, se necessário.

3. Taurina

A taurina é um aminoácido que desempenha um papel vital na função cardíaca, especialmente no músculo cardíaco.

  • Em gatos, sua deficiência pode levar diretamente a cardiomiopatia dilatada, uma condição grave e reversível com suplementação.
  • Em cães, embora a deficiência seja menos comum, alguns casos de cardiomiopatia também respondem positivamente à suplementação com taurina, principalmente em determinadas raças predispostas.

Fontes naturais: carnes vermelhas, peixes e vísceras, como coração e fígado.

4. L-carnitina

A L-carnitina atua no transporte de ácidos graxos para dentro das mitocôndrias, permitindo a produção eficiente de energia pelas células do coração. Sua deficiência está associada à fraqueza do miocárdio e pode contribuir para a progressão de cardiomiopatias.

A suplementação pode ser benéfica principalmente em cães de raças como Boxer e Cocker Spaniel, em que se observou melhora da função cardíaca em alguns estudos.

5. Ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA)

Encontrados em óleos de peixes de água fria, os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA) possuem efeito anti-inflamatório, antiarrítmico e anti-caquexia.

Benefícios comprovados:

  • Redução da frequência de arritmias ventriculares;
  • Melhora do apetite e da condição corporal (reduzindo a caquexia cardíaca);
  • Redução da pressão arterial e da inflamação sistêmica.

6. Antioxidantes (Vitamina E, C, Selênio, Coenzima Q10)

Animais cardiopatas sofrem com estresse oxidativo, que contribui para a progressão do dano ao músculo cardíaco. Antioxidantes ajudam a neutralizar os radicais livres, protegendo o coração e outros tecidos.

  • Vitamina E e C: reforçam o sistema imunológico e reduzem as lesões celulares.
  • Selênio: atua junto com a glutationa peroxidase, protegendo membranas celulares.
  • Coenzima Q10: participa diretamente na produção de energia pelas mitocôndrias cardíacas.

A suplementação deve ser feita com cautela, pois o excesso de alguns antioxidantes pode ser prejudicial.

Ingredientes funcionais e formulações específicas

Dietas formuladas especialmente para pets cardiopatas devem ser palatáveis e densamente calóricas para atender às necessidades energéticas, principalmente nos casos em que o animal apresenta perda de peso ou apetite reduzido. Ingredientes de alta digestibilidade, fontes nobres de proteína e controle de fósforo também são desejáveis.

Além disso, o suporte nutricional deve considerar a fase da doença: por exemplo, um cão assintomático em estágio B1 da DMV pode não precisar de alterações dietéticas importantes, enquanto um animal em estágio C (com sinais clínicos) se beneficiará de ajustes mais específicos.

Cuidados e acompanhamento

O manejo nutricional de um pet com doença cardíaca deve ser sempre orientado por um médico-veterinário, que avaliará exames clínicos e laboratoriais, estágio da doença, e o estado nutricional do animal. Mudanças na dieta devem ser introduzidas gradualmente, sempre respeitando a aceitação do pet e suas particularidades.
 A nutrição é uma aliada poderosa no cuidado de pets cardiopatas. Ajustes na alimentação, quando feitos com critério e conhecimento técnico, contribuem para o controle da doença, melhoram a qualidade de vida e demonstram, na prática, um cuidado integral e afetuoso com nossos companheiros de quatro patas.

AUTORA: 

SOPHIA MENDES GONÇALVES- (Estudante de Medicina-Veterinária- UFMG/BH)- Embaixadora Special Dog Company. 

 

Referências:

ACVIM consensus statement guidelines for the classification, diagnosis and management of cardiomyopathies in cats. J Vet Intern Med, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7255676/pdf/JVIM-34-1062.pdf .

ACVIM consensus guidelines for the diagnosis and treatment of myxomatous mitral valve disease in dogs. J Vet Intern Med, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6524084/pdf/JVIM-33-1127.pdf .