Saiba como o suporte nutricional correto influencia durante a internação do paciente.

A nutrição é considerada hoje o 5º parâmetro vital, sendo de extrema importância tanto para os cães e gatos saudáveis como para os que estão internados em clínicas e hospitais veterinários. O suporte nutricional pode ser tão necessário como qualquer terapia, como o uso de antibióticos, analgésicos e fluidoterapia.

Os pacientes internados geralmente se encontram em balanço energético negativo, que é quando se necessita de mais energia e nutrientes do que realmente está recebendo, o que pode contribuir negativamente na recuperação. Geralmente, esses pacientes têm o apetite diminuído devido ao estresse da internação, do habitat diferente, pela presença dos outros animais e, pela doença primária. É exatamente nessa fase da internação que devemos cuidar para dar o suporte nutricional necessário, já que podemos encontrar mudanças metabólicas, como hipo ou hipermetabolismo e perda de nitrogênio devido ao balanço nitrogenado negativo. Períodos longos de anorexia, podem mobilizar aminoácidos para gliconeogênese, agravando ainda mais o estado de desnutrição.

É importante ressaltar que para um suporte nutricional adequado é necessário uma anamnese, exame físico e exames complementares que auxiliem na hora da escolha do melhor tipo de alimento, na quantidade de alimento e na melhor via de administração. Importante levar em conta o ECC (escore de condição corporal) e o IMM (índice de massa magra) para cada paciente, estando ele em desnutrição ou não. Durante a internação, é importante acompanhar esses índices, além da quantidade de gramas ingeridas diariamente e o escore fecal.

A necessidade energética de repouso (NER) dos pacientes em internações deve ser calculada a partir da fórmula, onde PV = peso vivo do animal:

NER = 70 x (PV) 0,75

O resultado desse cálculo deve ser divido pela energia metabolizável do alimento, assim, alimentos com maiores energia proporcionam uma menor quantidade de alimento ingerida por dia, sendo excelente para aqueles pacientes que não aceitam grande volume de alimento.

Essa fórmula é utilizada para os pacientes críticos, visando suprir a taxa metabólica basal. A partir do momento da melhora desses pacientes, podemos calcular com base na necessidade energética de manutenção para cães e para gatos.

É importante ressaltar que quaisquer reintroduções do alimento na internação devem ser de acordo com o tempo em que o animal ficou em anorexia (sem se alimentar), sendo assim, de forma lenta e gradual. Para pacientes que ficaram mais de 5 dias, é necessário introduzir ¼ da NER no primeiro dia, 2/4 da NER no segundo dia, ¾ da NER no terceiro dia e no quarto dia, introduzir 100% da NER. Para pacientes que ficaram de 3 a 4 dias, podemos introduzir 1/3 da NER no primeiro dia, 2/3 da NER do segundo dia e 100% da NER no terceiro dia. Para os pacientes que chegarem com 1 a 2 dias de anorexia, pode-se introduzir ½ NER no primeiro dia e 100% da NER no segundo dia.

A via de administração desse alimento, é tão importante quanto a ingestão e o tipo de alimento. Pacientes que passaram por exemplo, por uma cirurgia de mandibulectomia, necessitam de uma sonda esofágica para irem de adaptando com a apreensão do grão. A primeira pergunta para a escolha dessa via é: O animal tem apetite? Se sim, devemos tentar primeiro a alimentação voluntária. E se não, devemos escolher quais vias seriam mais adequadas.

Na alimentação voluntária, podemos demandar de um recurso muito atrativo aos pets, que é a bandeja de alimentação. Nessa bandeja, podemos colocar diversos tipos e texturas de alimentos, como ração seca de duas ou mais marcas, ração seca amolecida em água, ração seca triturada + alimento úmido, alimento úmido + grãos de ração seca, ração seca + creme de leite, ração seca + fios de azeite, alimento úmido em forma de patê e alimento úmido em forma de sachê. Essa bandeja deve ser oferecida para estimular apetite.

Caso o animal não tenha apetite, devemos nos perguntar: É possível usar o trato digestório? Se sim, podemos utilizar orofaríngeos para estimular o apetite ou tentar a alimentação forçada. Lembrando que, a alimentação forçada não deve ser utilizada em gatos e não é a melhor forma de administração de alimento, visto que se pode perder uma quantidade na manipulação do paciente.

A forma mais eficiente de alimentação para os internados (além da alimentação voluntária) é a alimentação enteral via sonda. Esse tipo de nutrição fornece exatamente a necessidade energética e quantidade que o animal precisa, sem desperdícios e sem estressá-los. São diversas sondas, como a nasoesofágicas, nasogástrica, esofágica, gástrica e até sondas intestinais. A escolha vai depender do histórico do paciente e da doença.

Se por um acaso o trato gastrointestinal não for possível de ser utilizado ou se for um paciente que está muito crítico na hora da primeira avaliação, podemos contar a nutrição parenteral, que é uma nutrição que envolve a administração de nutrientes, como aminoácidos, glicose, carboidratos, eletrólitos, vitaminas e minerais por acesso venoso, periférico ou central. Essa nutrição pode ser utilizada por 2 ou 3 dias, e demanda uma equipe de veterinários acompanhando, com aparelhos sofisticados, como uma bomba de infusão contínua.

Na internação, é importante escolher bem o tipo de alimento que será fornecido. É de extrema importância que se utilize alimentos de alta qualidade e alta digestibilidade, como os alimentos super premium. Como já dito, quanto maior a energia metabolizável do alimento (EM > 4.000 kcal) menor o volume a ser ingerido. Importante ressaltar que um alimento coadjuvante na internação não é a melhor escolha, pois o estresse do paciente (e da própria alimentação, associada aos medicamentos) pode gerar uma aversão a esse tipo de nutrição. O alimento coadjuvante deve ser introduzido na casa do tutor.

Podemos escolher na internação, dependendo situação do internado, o alimento hipercalórico. Há vários no mercado e devem ser utilizados para pacientes críticos, convalescentes e que precisam de uma ingestão calórica maior.  

Os alimentos úmidos, como sachês e patês, são ótimos na internação para estimular apetite, por serem mais palatáveis e por serem passíveis de diluir e passar nas sondas. Além desses benefícios, os sachês e patês podem ser utilizados para auxiliar na administração de medicamentos. Cães e gatos costumam ingerir o comprimido dentro desse alimento sem apresentar nenhum estresse.

É de grande valia ressaltar que a alimentação dos pacientes internados deve ser realizada por um médico veterinário diferente daquele que faz a administração de medicamentos, por via intravenosa ou subcutânea, por exemplo, pois a medicação é um estresse e o animal pode associar a alimentação com essa situação e refugar o alimento.

Desta maneira, podemos concluir que a nutrição é tão importante quanto a utilização das outras terapias para a recuperação do paciente internado e deve ser realizada em 100% dos casos. Uma boa nutrição diminui o tempo de internação do paciente e está intimamente relacionada a alta hospitalar.

 

Referências

BRUNETTO, Márcio Antonio. Avaliação de suporte nutricional sobre a alta hospitalar em cães e gatos. 2006.

Nutrição do paciente hospitalizado – Pós-graduação em Nutrição de Cães e Gatos – Instituto Qualittas – Dra. Manuela Fischer.