Você sabia que cães e gatos também podem desenvolver urólitos no trato urinário? E que a nutrição pode ser a chave para o tratamento e manejo dessa desordem, como também ser uma das causas para que essa doença ocorra?

A urolitíase é uma desordem muito comum na rotina clínica de pequenos animais, correspondendo em média a 18% dos atendimentos em cães e até 21% dos atendimentos em gatos. Os cálculos urinários podem ser encontrados em todo trato urinário, como nos rins, vesícula urinária, ureteres e uretra. Os cálculos mais encontrados nos cães e gatos no Brasil são os de oxalato de cálcio, estruvita, urato de amônia e cistina. Sendo o de oxalato de cálcio e o de estruvita mais comuns na rotina clínica. O primeiro se desenvolve em pH urinário ácido e o segundo em pH urinário alcalino.

Alguns sinais clínicos estão associados ao incômodo ocasionado pelo urólito, como hematúria, disúria, estrangúria ou polaciúria, além de incontinência urinária e sinais sistêmicos como anorexia, êmese e letargia. Ao perceber quaisquer desses sintomas, é necessário levar o pet o mais rápido possível para um atendimento médico-veterinário.

Os urólitos são formados em duas fases distintas: a de iniciação ou nucleação e a de crescimento. Há diferentes teorias da formação dos urólitos, mas as três principais citadas em literatura são a teoria de cristalização, a teoria de deficiência de inibidores e a teoria da matriz. A primeira teoria corresponde à formação através dos minerais disponíveis na urina supersaturada que se agregam espontaneamente formando os urólitos. A segunda está correlacionada à falta de inibidores dos minerais que podem favorecer a formação dos cálculos. A terceira teoria está relacionada à presença da matriz orgânica, que pode ser desde debris celulares, coágulos e até proteínas, sendo responsáveis pela formação dos urólitos.

As causas para a formação dos urólitos são diversas, podendo tanto ter fatores não dietéticos como dietéticos. Os fatores que não estão relacionados com a nutrição são aqueles correlacionados com a raça, sendo que cães de pequeno porte são mais predispostos, como: Schnauzer miniatura, Lhasa apso, Yorkshire terrier, Bichon frise, Shitzu e Poodle, além de Dálmatas e Bulldogs. Sexo, idade, alterações no pH urinário, distúrbios metabólicos, anormalidades anatômicas do trato urinário, infecções urinárias (uma cistite pode levar a formação de um urólito!), comportamento e administração de alguns medicamentos são outros fatores não dietéticos.

Os fatores relacionados com a nutrição envolvem principalmente a supersaturação urinária, o uso de algumas fontes de proteínas de origem animal que acabam acidificando o pH urinário, o manejo alimentar inadequado, o baixo consumo hídrico e a utilização de rações secas, por conterem menor umidade na formulação. É importante ressaltar que uma nutrição balanceada, completa e com equilíbrio do balanço catiôn-aniônico da dieta, com o controle do pH urinário entre 6,2 e 6,8 e água disponível à vontade, reduz a zero as chances de formação de urólitos por meio da nutrição.

Cães e gatos que se alimentam de uma nutrição de baixa digestibilidade ou com desiquilíbrios de minerais, nitrogênios e de proteínas na formulação são propensos a desenvolver urólitos, porque ao consumirem essa dieta acabam perdendo água pelas fezes, diminuindo o volume urinário produzido e concentrando mais os minerais e excessos de nutrientes na vesícula urinária. Os cães, devido a sua fisiologia, conseguem ativar o hormônio antidiurético (ADH), que aumenta a reabsorção renal de água e ativa o reflexo de sede, aumentando assim a ingestão hídrica e, consequentemente, produzindo maior volume urinário e com menor densidade. Quanto aos felinos, a fisiologia da espécie é diferente, não sendo capazes de ativar o ADH, que, consequentemente, não reabsorverá água pelos néfrons, além de não ativar o reflexo de sede. Uma particularidade que chama atenção nessa espécie é que além de não reabsorver água pelos néfrons, os gatos ainda tendem a concentrar ainda mais a urina para evitar a perda por excreção, contribuindo e agravando as chances de desenvolvimento de urólitos por meio da nutrição mal formulada. Dessa forma, entende-se melhor porque os gatos formam mais urólitos por causas dietéticas do que os cães.

Alguns mitos circundam esse assunto, sendo divulgados tanto por tutores como pelos próprios médicos-veterinários. O principal deles é colocar a culpa da formação dos urólitos na quantidade de sódio da dieta. Como já dito, o balanço cátion-aniônico da dieta deve ser extremamente rigoroso, fazendo- se um cálculo denominado excessos de base (EB). O excesso de base leva em consideração a concentração de alguns minerais, como cálcio, magnésio, cloro, potássio, enxofre, fósforo e o sódio. Assim, conclui-se que apenas um mineral não é responsável pela alteração do equilíbrio da dieta. O sódio, inclusive, traz inúmeros benefícios para a prevenção e manejo da urolitíases, pois ele é capaz de aumentar a ingestão hídrica, aumentando o volume urinário produzido, diminuindo a densidade urinária e aumentando a velocidade de excreção da urina no trato urinário. Para ver mais benefícios, clique aqui.

A ingestão de água é imprescindível para se prevenir o surgimento de urólitos, bem como no manejo e no tratamento dos cães e gatos com cálculos. Podemos estimular a ingestão hídrica com mais potes de água espalhados pela casa, fornecendo gelinho e até mesmo através do oferecimento do alimento úmido/enlatado completo e balanceado. Esse alimento, além de possuir maior teor de umidade também possui maior teor proteico, o que promove diurese osmótica por aumentar a produção de ureia, aumentando assim o volume urinário, o que reflete em diminuição da concentração dos solutos na urina.

Podemos chegar à conclusão que cães e gatos podem formar urólitos por diversos motivos e que a dieta pode contribuir no aparecimento, manejo ou prevenção de urolitíases.  A atuação na prevenção e no cuidado com o trato urinário é de extrema importância para os pets, pois dessa forma se consegue evitar a formação dos urólitos.