O sódio é um mineral essencial na dieta dos cães e gatos. Em comparação com os humanos, a tolerância que os animais têm para esse nutriente é bem maior. Conheça alguns dos benefícios do sódio na dieta para os pets e entenda um dos maiores mitos da nutrição. 

Na medicina humana, é comum a restrição e preocupação com o uso do sódio na alimentação, devendo-se evitar embutidos e outros alimentos para controle principalmente da pressão arterial e cuidados com as alterações cardíaca e renal. Com isso, alguns mitos relacionados ao uso de sódio na alimentação dos pets surgiram, devido à estreita relação entre homem e animal.

O sódio na alimentação de pets é de extrema importância para uma boa saúde, e a quantidade desse macroelemento na dieta é consideravelmente maior, não sendo prejudicial como seria em humanos. Os alimentos industrializados convencionais (ração) são balanceados e formulados conforme as necessidades de cada fase da vida, seguindo as recomendações nutricionais descritas pelo NRC (Conselho Nacional de Pesquisa da Academia Nacional de Ciências dos EUA), FEDIAF (Federação Europeia da Indústria de Alimentos para Animais de Estimação) e Abinpet (Associação Brasileiras da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), e as dietas não convencionais, como a dieta caseira quando bem formulada e prescrita, também não trazem riscos quanto à quantidade de sódio na alimentação. O grande problema é ao oferecer dietas não balanceadas e não formuladas adequadamente, onde o nível de sódio e de outros macro e microelementos podem estar desequilibrados, gerando diversas complicações aos animais.

Cães e gatos toleram quantidades relativamente maiores de sódio nas dietas, conforme dados do FEDIAF 2018, uma diretriz nutricional muito respeitada e seguida pelos médicos-veterinários nutrólogos. Estudos mostram que 0,19g/1000 kcal de energia metabolizável é adequado para cães em todas as fases da vida, enquanto gatos saudáveis toleram teores de até 3,75 g/1000 kcal. Valores maiores ainda podem ser seguros, mas não existem estudos. Para cães e gatos em crescimento, esses teores podem ser maiores, devido a exigências nutricionais na fase de crescimento dos filhotes. Assim, se observarmos a composição básica das rações para filhotes, o nível de sódio será sempre maior do que para um animal adulto ou sênior. Saiba como alimentar seu cão de acordo com as fases da vida.

Qual o papel do sódio no organismo?

O sódio faz parte de vários sistemas do organismo do animal, sendo responsável, por exemplo, pelo equilíbrio ácido-básico e pela utilização da glicose, que é a fonte de energia para as células e para os animais. A glicose só consegue ser utilizada se um sódio auxiliar sua entrada pela membrana. Desta forma ele se torna indispensável para o trabalho celular. Esse mineral também participa da absorção de diversos nutrientes da dieta, e é responsável pela contração muscular do coração, resultando nos batimentos cardíacos por meio da bomba de sódio-potássio. Para ter contração dos demais músculos, também se precisa desse mineral. Os impulsos nervosos decorrem através do uso da bomba de sódio-potássio nos neurônios, tornando-o necessário também para a transmissão nervosa.

Quando se deve reduzir a quantidade de sódio ingerida pelo animal?

A redução do sódio na dieta é realizada apenas para os animais que apresentam doença renal crônica em fases mais avançadas e algumas patologias cardíacas. Nesse ponto, é importante ser discutido o uso do sódio e a pressão arterial em cães e gatos (PA). Alguns tutores e médicos veterinários costumam restringir por completo o sódio do manejo alimentar, para não alterar a pressão. Porém, estudos demonstram que a pressão arterial em pequenos animais não é influenciada pela concentração de sódio nas dietas, e que restringir seu uso pode ativar precocemente o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que fará a absorção de sódio e água pelos rins, aumentando assim o volume sanguíneo e consequente pressão arterial. A restrição para os casos de animais hipertensos deve ser realizada apenas nos estágios mais avançados da doença, e mesmo assim há algumas controversas entre os estudos sobre a dieta a ser utilizada.

A ausência ou restrição de forma não acompanhada ou sem necessidade do sódio nas dietas pode acarretar vários problemas para a saúde dos pets, como falta de apetite, anorexia, problemas com crescimento, desidratação, aumento dos batimentos cardíacos e até mesmo desnutrição. Lembrando que quaisquer alterações em dietas devem ser realizadas por um médico-veterinário especialista em nutrição.

Como o sódio é usado na ração?

Além de ser importante na dieta por fazer parte da homeostase do organismo e para suprir as exigências nutricionais, o sódio é usado em uma dieta convencional (ração) como forma de conservação do produto, resultando em mais tempo de vida de prateleira, e como palatabilizante, ou seja, ele é responsável por deixar o alimento mais agradável ao paladar dos pets. O sódio também é acrescentado para aumentar a ingestão hídrica dos animais, sendo um ótimo mecanismo principalmente para os felinos que por sua fisiologia consomem menos água de forma voluntária. É importante salientar que a água deve estar disponível para os pets de forma abundante para que ocorra a ingestão de forma adequada. Assim, um alimento com acréscimo de sal promove mais ingestão hídrica no bebedouro por ativar o “reflexo de sede”, o que resulta em uma urina mais diluída e fluxo urinário mais constante, promovendo a saúde do trato urinário e diminuindo as chances de formação de urólitos.

A relação entre o sódio e a formação de urólitos

Culpar o sódio pela formação de urólitos é um dos maiores mitos que alguns tutores já ouviram. O sódio por si só não é capaz de predispor a formação de urólitos, conhecidos como pedras, no trato urinário de cães e gatos. Os cálculos são formados por inúmeros fatores, relacionados ou não a nutrição. O sódio precisa estar em desequilíbrio junto com outros macro e microelementos para que ocorra o desenvolvimento dos urólitos, por isso é importante oferecer aos pets uma dieta balanceada e equilibrada. 

Dietas coadjuvantes urinárias, que são aquelas prescritas por veterinários para auxiliar no tratamento e/ou dissolução dos urólitos, possuem um acréscimo moderado de sódio, principalmente para que o animal beba mais água, tornando a urina mais diluída e os minerais mais dispersos na vesícula urinária, aumentando o fluxo de urina pelo trato urinário e resultando em mais micção ao longo do dia. Dessa maneira podemos compreender que o sódio é um bom e importante aliado na prevenção e manejo dos cálculos urinários.

Nota-se que os cães e gatos são mais tolerantes ao uso do sódio na alimentação, e que esse mineral é importante na nutrição dos pets, tendo muitos benefícios para o organismo e resultando em uma saúde ótima!

 

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