Os gatos domésticos descendem do gato selvagem africano, uma subespécie originária de regiões desérticas. Essa origem explica o porquê de terem desenvolvido mecanismos fisiológicos eficientes para conservar água: eles toleram grandes perdas e produzem uma urina altamente concentrada, o que lhes permite sobreviver com uma baixa ingestão de água. No entanto, em ambientes modernos, essas adaptações tornam os gatos vulneráveis à desidratação e problemas renais. Por isso, o balanço hídrico é um tema importante e de constante atenção para os tutores de felinos.
O equilíbrio da água no organismo felino:
O balanço hídrico refere-se ao equilíbrio entre a ingestão e a excreção de água. Assim como outros nutrientes, a água é essencial para a vida e desempenha diversas funções no organismo, entre elas a regulação de temperatura corporal, transporte de nutrientes e eliminação de resíduos. Ela pode ser adquirida através de líquidos, consumo de alimentos e metabolismo, e estima-se que um gato adulto saudável deve consumir 40 a 60 ml de água por quilograma de peso corporal por dia para se manter hidratado (160 a 240 ml para um animal de 4kg).
Ao mesmo tempo que adquirem água, os gatos a perdem constantemente para o ambiente através de vias sensíveis (mensuráveis) e insensíveis (imensuráveis). As perdas sensíveis ocorrem via fezes e urina, e as insensíveis via evaporação respiratória, cutânea e salivar. As perdas cutâneas são mínimas em gatos, que possuem poucas glândulas sudoríparas e não dependem do suor para se termorregular. Já as perdas respiratórias e salivares se intensificam com o aumento da temperatura do ambiente. Nessas condições, os felinos aumentam a frequência respiratória, ainda que em menor grau que os cães, e realizam a lambedura dos pelos para se resfriar, acelerando a evaporação e a perda de água.
Vale ressaltar que o baixo consumo hídrico não é o único fator que pode levar à desidratação, e o aumento das perdas, que também pode estar relacionado à prática de exercícios físicos, problemas de saúde e desbalanços alimentares, contribui significativamente para essa condição.
Nesse contexto, as perdas urinárias são de crucial importância. Embora as perdas fecais sejam relevantes em casos de diarreia ou baixo escore fecal, as perdas urinárias representam a principal preocupação, pois a redução do volume urinário predispõe à formação de urólitos (cálculos) e ao desenvolvimento de doenças do trato urinário, comuns na espécie felina. Essa redução ocorre pois, em casos de desidratação, o organismo percebe a diminuição do volume de água corporal e o aumento da osmolaridade vascular (concentração de solutos), ativando mecanismos neuroendócrinos para conservar água e estimular a sede, porém esse reflexo é reduzido em gatos. Deste modo, eles reduzem as perdas, mas não aumentam significativamente o consumo voluntário de água, o que prejudica o balanço hídrico e agrava a desidratação.
O organismo felino também possui mecanismos para lidar com o excesso de água. Contudo, essa é uma situação pouco frequente no dia a dia dos tutores.
Sinais de alerta:
Apesar da notável capacidade do organismo felino em lidar com a restrição hídrica e a desidratação, ela representa uma ameaça grave. Em casos severos, ela compromete as funções orgânicas dependentes da água e pode ser fatal. Por isso, é crucial que os tutores identifiquem os sinais de alerta precocemente:
- Redução da elasticidade da pele
- Gengivas secas e pegajosas
- Olhos fundos
- Letargia e fraqueza
- Diminuição do volume e frequência de urina
Garantindo a hidratação adequada:
Considerando as particularidades fisiológicas e comportamentais dos gatos, a intervenção humana é crucial para garantir a hidratação adequada e, assim, promover uma vida longa e saudável. Algumas das estratégias que podem ser adotadas para estimular o consumo de água incluem:
- Água fresca e limpa: troque a água diariamente e mantenha os bebedouros limpos.
- Bebedouros adequados: evite bebedouros de plástico, que podem reter odores e contaminar a água, e prefira materiais como cerâmica, vidro ou aço inoxidável. Evite também tigelas muito estreitas e profundas que encostam nos bigodes dos gatos, pois pode ser desconfortável para eles. Acima de tudo, considere as preferências individuais do seu animal.
- Fontes de água: muitos gatos preferem beber água corrente. O uso de fontes específicas para gatos pode incentivar a ingestão de água.
- Múltiplos pontos de água: distribua várias tigelas de água pela casa, em locais diferentes e tranquilos, longe da comida e da caixa de areia. Gatos muitas vezes preferem beber em locais separados de onde se alimentam ou fazem suas necessidades.
- Alimentação úmida: a ração úmida contém significativamente mais água (superior a 80%) do que a ração seca (inferior a 12%). Aumentar a porcentagem de ração úmida na dieta pode suprir grande parte das necessidades hídricas diárias do seu gato, sendo uma das maneiras mais eficazes de aumentar a ingestão de líquidos.
A hidratação adequada é um pilar essencial para a saúde felina. Ao entender sua importância, observar os sinais de alerta e implementar estratégias eficazes para estimular o consumo de água, o tutor contribui significativamente para o bem-estar e a longevidade do seu gato. Seu papel ativo é insubstituível para garantir a qualidade de vida do seu companheiro felino.
AUTORA: HELOISA TRABAQUIM ALEIXO PINTO (Estudante de Medicina-Veterinária- UNESP JABOTICABAL)- Embaixadora Special Dog Company.